Por Alexandre Rossi – Dr Pet
Você coloca a ração no pote, o cachorro olha, cheira e vira o rosto. Ou só aceita se tiver frango desfiado, caldo de carne ou algum petisco por cima. Parece familiar? Muita gente lida com esse tipo de comportamento e acaba achando que é normal ou que o pet está só sendo mimado. Mas esse tipo de recusa pode indicar que algo não vai bem.
A falta de apetite, quando o animal está saudável, é sempre um sinal de alerta. Pode ter relação com o ambiente, com a rotina, com a qualidade da alimentação ou até com algum desconforto físico que não está sendo notado. Ao longo da minha carreira, e também com meus próprios pets, vi muitos casos em que a recusa da ração era só o primeiro sinal de que alguma coisa precisava ser investigada.
Se o pet está saudável, ele deveria ter interesse pela comida. Quando isso não acontece, é importante investigar. Às vezes, o problema está no estômago, no esôfago, na digestão. Pode ser uma gastrite leve, uma intolerância, um ingrediente que provoca mal-estar e que o pet começa a associar ao sabor daquela ração. E, nesse caso, não adianta insistir ou tentar forçar. O animal não está fazendo charme, ele está tentando evitar se sentir mal.
Aqui em casa, o Barthô passou por algo parecido. Ele só começava a comer se eu desse alguma coisinha antes. Com o tempo, entendi que ele precisava desse estímulo por causa de um desconforto gástrico. A alimentação mais fracionada e adaptada ajudou muito a aumentar o apetite dele na época.
Muitos cães têm alguma sensibilidade a ingredientes comuns nas rações, como frango, soja ou milho. E o frango, por exemplo, aparece em quase todas as fórmulas, mesmo quando a embalagem diz outro sabor. Já vi até ração de salmão com miúdos de frango na composição. Para cães com alergia ou intolerância, isso é suficiente para causar problemas digestivos ou de pele.
E nem sempre os sintomas são óbvios. Em vez de diarreia ou vômito, o pet pode ter coceira, lambedura excessiva, queda de pelo ou simplesmente perder o interesse pela ração. Quando isso acontece, vale investigar com mais atenção.
Outro ponto importante é o sobrepeso. Quando o pet está acima do peso, o apetite costuma diminuir e ele fica mais seletivo. Isso gera um ciclo difícil: como ele não quer comer a ração, o tutor oferece algo mais saboroso, ele come, engorda mais e passa a recusar ainda mais a ração.
Manter o peso ideal é fundamental. Um pet com escore corporal adequado, costuma ter apetite mais regular. E dá pra perceber esse equilíbrio visualmente. Em raças de pelo curto, é possível notar a cintura e apalpar as costelas com facilidade. Se isso não acontece, é hora de falar com o veterinário para rever a quantidade de comida oferecida.
Assim como a gente enjoa de comer sempre a mesma coisa, os pets também podem demonstrar esse comportamento. E isso tem uma função biológica. Variar a alimentação pode ajudar a evitar intoxicações por excesso de um único alimento e garantir nutrientes que estavam faltando.
Claro que a base da alimentação precisa ser segura e balanceada. Mas incluir pequenas variações pode fazer sentido, desde que seja feito com critério, supervisão veterinária e observação.
Muita gente recorre a caldos, toppers, legumes ou carnes cozidas para deixar a ração mais atrativa. Isso pode ser feito, sim, desde que os ingredientes escolhidos sejam saudáveis e seguros para cães. Caldo de frango sem sal, por exemplo, costuma funcionar bem.
Mas é importante lembrar que, se o pet começa a receber sempre algo mais gostoso por cima da ração, ele pode se acostumar a só aceitar esse tipo de comida. Isso dificulta a rotina, especialmente em viagens ou situações em que não dá pra manter esse padrão. Além disso, dependendo do que é oferecido, pode levar ao ganho de peso e à recusa da ração pura.
Por isso, o ideal é que esse tipo de complemento seja usado como um agrado ocasional, ou então já faça parte da alimentação desde o início, de forma planejada e consistente. O que deve ser evitado é esperar o pet recusar para só então “melhorar” a comida. Esse vai-e-volta ensina o pet a recusar ainda mais.
Outro ponto importante é que, ao molhar a ração, ela perde uma de suas vantagens, que é a abrasão leve nos dentes, ajudando na limpeza bucal. E se ficar muito tempo no pote, principalmente em ambiente quente, pode fermentar, oxidar ou até mofar. Isso representa riscos reais à saúde e deve ser evitado.
Alimentos fermentados vêm ganhando espaço na alimentação dos pets por contribuírem com a saúde intestinal. Iogurte natural e até chucrute sem tempero podem ser introduzidos aos poucos, em pequenas quantidades, para auxiliar a microbiota digestiva. Mas atenção: como sempre digo, uma colher de kefir para um Yorkshire é como uma tigela inteira para um humano adulto. Tudo precisa ser proporcional ao tamanho do animal.
Esses alimentos contribuem para uma flora intestinal mais variada, o que costuma melhorar tanto a digestão quanto o aproveitamento dos nutrientes. Mas, como qualquer mudança alimentar, devem ser introduzidos com orientação veterinária, cautela e observação.
Filhotes costumam ter muito apetite. Por isso, quando um filhote recusa ração ou chora na hora de comer, isso não deve ser tratado como algo normal. É um sinal de que algo precisa ser investigado.
Pode ser dor na boca, dificuldade de mastigar, ou até desconforto no esôfago ou estômago. Em alguns casos, a ração está grande demais, seca demais ou em quantidade acima do ideal para o tamanho do filhote. Vale também observar se ele se estica depois de comer.
Diminuir a quantidade, umedecer levemente a ração ou oferecer em comedouros mais rasos pode ajudar. Mas o ideal é buscar orientação veterinária, já que nessa fase o organismo ainda está se desenvolvendo e qualquer problema pode evoluir rápido.
A recusa da ração nunca deve ser tratada como algo banal, pois quase sempre tem uma causa por trás. Pode ser saúde, rotina, manejo, paladar ou tudo isso junto. Observar com atenção e buscar orientação fazem diferença na vida do pet.
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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha e Barthô (in memoriam), Bruno e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.
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