Por Alexandre Rossi – Dr Pet
Seu gato já pulou de lado do nada? Travou no meio da brincadeira? Bateu a pata na torneira até sair água? Ou mordeu você no meio de um carinho? Para muita gente, essas atitudes parecem sem sentido — mas são apenas parte do comportamento dos felinos.
O que parece estranho aos nossos olhos muitas vezes é só uma forma diferente de perceber o mundo. Gatos não agem como a gente, nem como os cães. E tudo o que fazem tem um porquê, que muitas vezes está enraizado no instinto. Entender esses comportamentos ajuda a criar uma convivência mais tranquila e respeitosa — evitando julgamentos desnecessários.
É bem comum o gato aparecer com uma barata, uma lagartixa ou até um passarinho. Às vezes, ele traz esse “presente” até a porta do quarto ou da sala. Pode parecer nojento, mas esse gesto tem significado.
Na natureza, os gatos caçam para sobreviver. E também compartilham a caça com outros membros da colônia. Quando trazem uma presa até você, eles podem estar incluindo você nesse grupo. Às vezes, a presa vem meio “capenga” — sem patinhas, tonta — e isso também tem lógica: é uma forma de ensinar filhotes a caçar. Mesmo sem filhotes por perto, o comportamento continua aparecendo. Está gravado no instinto.
Muita gente se irrita quando o gato começa a empurrar objetos da mesa ou da estante. Mas isso também tem motivo. Para alguns gatos, é curiosidade pura: ao derrubar algo, eles testam o ambiente. Pode ter uma presa escondida ali? Vai gerar algum movimento? Vai chamar atenção?
Outros simplesmente perceberam que, ao derrubar algo, alguém da casa reage. No caso da minha gata Miah, basta a gente colocar qualquer coisinha menor em cima de uma superfície — microfone, controle, chave — que em poucos minutos… pluft. Ela derruba. E fica olhando, com aquela cara de “ué?”. Já perdi a conta de quantas vezes avisei: não deixem nada importante ao alcance da Miah.
Se tem uma coisa que une quase todos os gatos do planeta, é o amor por caixas. E não precisa ser nada elaborado. Qualquer caixa de papelão já vira esconderijo, base de ataque, toca de descanso. É barato, simples e funciona.
Outro comportamento curioso é o pulo de lado com o corpo arqueado. Parece que o gato está possuído, mas, na verdade, é um tipo de treino. Ele simula uma reação a uma ameaça, testando como se defenderia em situações reais. Filhotes fazem isso o tempo todo.
E os vídeos de gato se assustando com pepino? A questão aqui não é o pepino em si, e sim o susto. Se o gato está comendo e algo aparece repentinamente atrás dele, ele ativa o modo sobrevivência. O reflexo é tão rápido que ele literalmente salta. Essa brincadeira, apesar de viral, não é legal. Gera estresse e insegurança.
Outro comportamento clássico é o gato que insiste em beber água direto da torneira. Isso não é frescura. Na natureza, felinos preferem água corrente e longe da comida. Isso diminui o risco de contaminação.
Se o gato só toma água da torneira, vale observar: pode ser que ele não esteja se hidratando bem com o potinho. E isso é um problema, especialmente para a parte urinária. Pouca ingestão de água aumenta o risco de inflamação, infecção e formação de cálculos. Em machos, uma pedrinha pode obstruir a uretra e causar muita dor. Fontes com água em movimento e mais pontos de água pela casa podem fazer diferença.
Você está lá, acariciando seu gato, e do nada ele te morde? Isso acontece muito — especialmente quando o carinho é na barriga. Essa é uma região sensível, que muitos gatos preferem proteger.
Alguns até gostam do carinho, mas se empolgam, se irritam ou se sentem invadidos. O resultado pode ser um ataque com boca e patas. Em geral, não é agressividade pura. É só uma reação ao desconforto. Aprender a identificar os limites de cada gato faz toda a diferença.
Alguns gatos não enterram o cocô. Isso pode ser uma forma de marcar território: “aqui é meu lugar”. Já outros fazem o oposto — enterram tudo com empenho, até o que não é deles. Em casas com mais de um gato, pode ser sinal de cuidado com a higiene do grupo.
Quando o gato para de usar a caixa, pode ser que tenha algo incomodando: o tipo da areia, o local da caixa ou até uma experiência ruim. Às vezes, ele tenta enterrar em lugares onde nem dá para enterrar — mostrando que o instinto ainda está ali.
Alguns gatos, especialmente os mais jovens ou ativos, têm o hábito de atacar pés e mãos. Parece brincadeira, mas pode assustar — ou machucar. Isso se agrava em casas com crianças pequenas, idosos ou pessoas com saúde mais frágil.
Nesses casos, o ideal é redirecionar a energia para brinquedos. Varinhas, túneis, ratinhos de brinquedo… tudo que permita o gato caçar sem machucar ninguém. E cortar as pontinhas das garras ajuda bastante.
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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha e Barthô (in memoriam), Bruno e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.
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