Por Alexandre Rossi – Dr Pet
Quem convive com cães já percebeu que eles têm jeitos “peculiares” de agir. Às vezes, eles parecem estranhos para nós, como quando ficam dando várias voltinhas antes de deitar ou insistem em cheirar outros cachorros em lugares pouco “elegantes”.
Em outras ocasiões, parecem ter superpoderes: conseguem perceber nossa tristeza e adivinhar a hora em que vamos chegar em casa. Mas nada disso é mágica.
Esses comportamentos são expressões de como os cães enxergam, sentem e interpretam o mundo. Entender o que está por trás desses comportamentos ajuda a gente a se aproximar mais deles e interpretar melhor suas necessidades.
Uma dúvida comum é se os cães se reconhecem no espelho. A maioria até estranha o reflexo por um tempo, late ou tenta brincar, mas logo entende que aquilo não é um cachorro de verdade e simplesmente ignora.
Diferente de espécies como chimpanzés e golfinhos, que já mostraram sinais claros de autorreconhecimento, os cães não usam o espelho para se analisar.
Isso não significa que sejam menos inteligentes. Significa apenas que sua inteligência segue outra lógica. Enquanto nós dependemos muito da visão, os cães confiam no olfato e em outros sentidos.
Por isso, um reflexo visual não tem tanta importância para eles quanto tem para nós. É como se o espelho fosse um detalhe irrelevante em comparação com os cheiros que revelam informações muito mais interessantes.
Outro comportamento típico que chama atenção são as voltinhas antes de deitar. Muitos tutores ficam se perguntando por que o cachorro não simplesmente se acomoda de uma vez.
A explicação está no instinto herdado dos ancestrais selvagens. Ao girar sobre si mesmo, o cão avaliava se o terreno tinha pedras, galhos ou espinhos e ainda ajeitava o espaço para formar um “ninho” confortável e seguro.
O curioso é que esse instinto continua presente mesmo nos locais mais macios. Quantas vezes o tutor arruma a cama ou o sofá, e o cão, em poucos segundos, cava e bagunça tudo antes de se acomodar?
O meu cão Barthô fazia muito isso, eram vários minutos nesse ritual. Isso mostra como os comportamentos herdados podem ser fortes a ponto de persistirem mesmo quando já não têm função prática.
Se tem um sentido que define a vida dos cães é o faro. É por meio dele que eles entendem grande parte do mundo. Quando um cachorro cheira o bumbum de outro, por exemplo, ele está colhendo informações preciosas.
As glândulas anais liberam substâncias únicas, que funcionam como uma identidade química. Ao cheirar bem de perto, o cão consegue dados sobre saúde, estado emocional e até o ciclo reprodutivo do outro.
Esse mesmo faro explica habilidades impressionantes. Já foi comprovado que cães podem perceber odores relacionados ao medo, algo impossível para nós. Além disso, conseguem identificar doenças.
Há relatos de cães que insistiram em cheirar ou lamber uma pinta do tutor que, depois, foi diagnosticada como tumor. Isso acontece porque células doentes produzem substâncias diferentes, perceptíveis ao olfato canino.
Também não é raro ouvir que os cães parecem sentir quando estamos tristes. E há muita verdade nisso. Eles prestam atenção a detalhes mínimos do nosso comportamento: o tom da voz, a forma como calçamos os sapatos, até o jeito de abrir uma gaveta.
Tudo isso pode indicar para eles o que está prestes a acontecer e como estamos nos sentindo. Pesquisas mostram que eles costumam fixar o olhar no lado do rosto humano que revela mais microexpressões faciais.
Isso significa que captam sinais de emoção que muitas vezes passam despercebidos para outras pessoas. Essa sensibilidade explica por que muitos cães parecem se aproximar nos momentos em que mais precisamos.
A visão dos cães também guarda segredos. Eles não veem em preto e branco, como muitos acreditam, mas não distinguem bem vermelho e verde. Em compensação, conseguem enxergar melhor em ambientes com pouca luz.
Outra vantagem é que percebem movimentos com mais rapidez, o que os ajuda a identificar presas ou perigos mesmo a distância. Além da visão, os cães também se comunicam pelo corpo. O rabo, por exemplo, é um verdadeiro indicador emocional, mas precisa ser interpretado dentro do contexto.
Nem sempre abanar o rabo significa alegria. Pode indicar ansiedade, medo ou até tensão. Observar a posição e a intensidade do movimento é fundamental para compreender o que o pet realmente está sentindo.
Uma das experiências mais relatadas por quem tem cachorro é a sensação de que eles “sabem” quando o tutor está chegando. Algumas explicações são bem práticas: eles podem reconhecer o som específico do carro ou sentir os cheiros que chegam ao apartamento pelo poço do elevador.
Em outras situações, parece quase telepatia. A ciência ainda não tem resposta definitiva, mas o que se sabe é que os cães são mestres em captar pistas sutis que escapam totalmente da percepção humana.
Convivência com um cão é uma troca constante. Eles aprendem sobre nós com uma precisão impressionante, e, quanto mais prestamos atenção nos sinais que eles nos dão, melhor a gente vai entender suas necessidades e emoções.
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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha e Barthô (in memoriam), Bruno e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.
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