Perda de visão em pets: como prevenir, cuidar e adaptar a rotina

Por Alexandre Rossi – Dr Pet 

A saúde dos olhos dos nossos pets é um tema que merece mais atenção do que costuma receber. Pode parecer que a visão não é tão importante quanto o faro ou a audição, mas ela tem um papel essencial na autonomia, no conforto e na segurança do animal.

E a perda de visão é mais comum do que muita gente imagina, seja por idade avançada, traumas ou doenças. A boa notícia é que dá pra fazer muita coisa para prevenir problemas e, mesmo quando o pet já não enxerga bem, garantir que ele continue vivendo com qualidade.

Nesta coluna, compartilho orientações práticas sobre como proteger os olhos dos cães e gatos, reconhecer sinais de alerta e adaptar o ambiente para que eles sigam com bem-estar.

Perigos invisíveis para pets em casa

Muitas pessoas sabem que cactos podem machucar, mas nem sempre se percebe que outras plantas e objetos com pontas em casa também representam risco. Um galho mais duro, uma quina de móvel, até uma cerca mal posicionada pode causar lesões nos olhos.

E mesmo quando o pet já não enxerga, um ferimento no olho ainda dói, pode infeccionar e, em alguns casos, pode levar até à remoção do globo ocular. Revisar os ambientes por onde o pet circula e eliminar esses riscos é um cuidado simples, mas muito importante para evitar acidentes.

Fontes de água ajudam na autonomia dos animais

Fontes de água são bastante indicadas para gatos, mas podem ser muito úteis para cães que estão perdendo a visão ou a audição. O som da água corrente funciona como um estímulo e ajuda o pet a localizar o pote.

Já vi muitos cães que só se lembram de beber água quando percebem outro cão fazendo isso. E foi daí que veio a ideia: será que o barulho da fonte poderia funcionar como lembrete? Funciona. E, além de ajudar na hidratação, essa referência sonora melhora a autonomia do animal dentro da casa.

Cor nem sempre faz diferença

É comum ouvir que cães enxergam apenas azul e amarelo. Mas a questão é um pouco mais complexa. Os cães têm menos cones na retina, então não percebem as cores da mesma forma que a gente. Eles respondem melhor a contrastes e movimentos. Já os gatos, por exemplo, enxergam melhor em baixa luminosidade, mas também com pouca distinção de cores.

Na prática, um brinquedo azul pode ser mais fácil de ver na grama do que um vermelho. Mas se a ideia for estimular o faro, esconder um brinquedo que se camufla no ambiente pode ser mais interessante. Assim, o pet precisa usar outros sentidos, o que é ótimo quando o objetivo é treinar o olfato para uma eventual perda de visão no futuro.

Ative o faro e o tato de pets com perda de visão

O olfato é o principal sentido dos cães e o uso dos bigodes também ajuda muito na percepção do ambiente. Por isso, mesmo antes da perda de visão, vale estimular esses sentidos com brincadeiras que envolvam busca por petiscos ou brinquedos escondidos.

Essas atividades reforçam a autonomia. O pet se sente mais confiante e seguro, mesmo quando começa a depender menos da visão e mais de outros sentidos.

Como cuidar dos olhos dos pets no dia a dia

Alguma remela nos olhos pode ser normal. Mas se ela for esverdeada, amarelada ou aparecer com frequência, pode indicar infecção, inflamação ou até alergia. E uma inflamação crônica, se não for tratada, pode levar a complicações mais sérias ao longo do tempo.

Perfumes, produtos de limpeza, poeira, mofo e poluição também podem causar irritações nos olhos. Às vezes é preciso escolher o que faz mais sentido para a saúde geral do pet. Um bom exemplo é a questão dos passeios: mesmo com poluição na cidade, o benefício emocional e comportamental do passeio pode ser mais importante do que o risco de exposição pontual.

Já para limpar, o ideal é usar produtos oftalmológicos próprios para eles. O soro fisiológico costuma ser seguro e é usado em muitos protocolos. Mas o cuidado na aplicação é fundamental. Nunca encoste o frasco diretamente no olho e nunca esfregue. Isso vale para os pets e para a gente também. Sempre recomendo consultar um médico-veterinário antes de aplicar qualquer produto.

Um pet com pouca visão ainda pode viver muito bem

Os animais são extremamente resilientes. Mesmo quando a visão começa a falhar, eles encontram outras formas de explorar, se orientar e manter a qualidade de vida. Muitos se adaptam com mais facilidade do que a gente imagina.

O maior desafio, muitas vezes, está do lado de cá. Cabe ao tutor aceitar essa nova fase e fazer as adaptações necessárias para que o pet continue seguro, confortável e confiante no próprio ambiente.

Com estímulos bem escolhidos, pequenas mudanças na rotina e muito carinho, é possível garantir autonomia e bem-estar mesmo sem a visão.

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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha e Barthô (in memoriam), Bruno e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.