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Por que cachorros destroem as coisas? Entenda o comportamento e saiba o que fazer

Por Alexandre Rossi – Dr Pet 

Cachorro que rasga o sofá, cava o jardim ou fuça o lixo deixa muita gente de cabelo em pé. Tem tutor que acha que é falta de educação, outros pensam que o pet está fazendo por birra. Mas a destruição, na maioria dos casos, não tem nada a ver com isso. Tem muito mais a ver com comportamento natural.

Roer, cavar, sacudir brinquedos, espalhar o lixo… tudo isso faz parte do repertório instintivo dos cães. A gente é que “colocou” esses comportamentos dentro de casa, sem ensinar o pet o que pode ou não pode. Continue lendo e entenda mais sobre o assunto.

Explorar é instinto canino

Quando o cachorro morde o pé da cadeira, por exemplo, ele não está necessariamente tentando desafiar ninguém. Ele está interagindo com aquele objeto. Às vezes, o móvel é de madeira e a madeira é interessante por fora e por dentro. Um sofá tem tecido, espuma, cheiros diferentes. Um filhote então, acha tudo aquilo incrível.

Isso vem da natureza mesmo. Durante a caça, por exemplo, o cão precisa abrir a presa, separar as partes, buscar o que é mais nutritivo. Alguns gostam mais do fígado, outros preferem o osso. E enquanto estão roendo, ainda ajudam a limpar os dentes, o que também é uma função importante.

Esses comportamentos instintivos vêm prontos. O animal não precisa aprender do zero. Ele já nasce com esse “manual” embutido e, por isso, mesmo um cachorro que nunca caçou pega um brinquedo e sacode com força. Essa sacudida é chamada na natureza de “sacudida da morte”. Serve para imobilizar a presa e evitar que ela machuque o cachorro de volta. E isso pode ser reproduzido com brinquedo de pelúcia dentro de casa, mesmo que ele nem saiba por quê.

Cavar também é natural

Outro comportamento comum é cavar. Alguns cães cavam a caminha, o sofá, o quintal. Pode ser para fazer uma toca, esconder alguma coisa ou até encontrar comida. A Estopinha, por exemplo, adorava cavar o jardim atrás das minhas berinjelas. Nem era época de colher ainda e ela já ia lá procurar. O estrago era garantido. Ela também não podia ir à praia que cavava a areia com uma energia que dava gosto de ver.

Cavar também pode ter a ver com tentar alcançar algo do outro lado. Quando o tutor sai de casa e a porta fica fechada, o cão pode tentar abrir o caminho com as próprias patas.

Enterrar também é importante para cachorros

Muita gente já viu o cachorro tentando “enterrar” um brinquedo dentro do sofá ou cobrindo o pote de ração com o focinho, mesmo sem ter nada em volta. Isso também é instintivo. Pode ser que esteja tentando esconder a comida de outro animal, mas existem outras hipóteses.

Uma delas é proteger o alimento de insetos, como formigas e vespas, que aparecem muito rápido. Ao jogar terra (ou qualquer coisa que ele ache que é terra), o cachorro atrasa esse ataque.

Outra possibilidade interessante é que ao enterrar, o alimento entra em fermentação, que pode ajudar na digestão. Já vi casos de lobos que enterram um frango novo e desenterram o velho para comer. Pode parecer estranho, mas o alimento fermentado traz benefícios para a microbiota deles.

Fuçar o lixo é quase irresistível para os cães

O lixo é uma mistura de tudo o que os cães adoram explorar: cheiros fortes, restos de comida, objetos com nosso cheiro. Muitos cachorros fuçam o lixo da cozinha e também o do banheiro. Pode parecer nojento para a gente, mas para eles é uma fonte de nutrientes. Inclusive tem estudos mostrando que em comunidades na África, a principal fonte de proteína dos cães é o cocô humano.

Hoje se sabe que a domesticação dos cães provavelmente aconteceu por meio da convivência com o lixo humano. Os lobos mais corajosos se aproximavam dos assentamentos, comiam os restos e iam perdendo o medo das pessoas. Esses foram sendo naturalmente selecionados e se tornaram os cães que temos hoje.

Quando o comportamento vira problema

Nem toda destruição é sinal de desequilíbrio. Mas ela pode, sim, indicar que algo está errado. Ansiedade, tédio, desconforto físico ou digestivo, dor nos dentes podem aumentar a vontade de morder, rasgar, cavar.

Mesmo quando é natural, o comportamento pode trazer prejuízo. Às vezes o cão destrói o sofá porque é o lugar onde mais sente o cheiro do tutor. Isso ajuda a aliviar a ansiedade. Mas o tutor, incomodado, passa a deixar o cachorro preso na lavanderia. O pet perde o conforto, o cheiro e o problema se agrava. A relação também pode se desgastar.

Por isso, gosto sempre de avaliar se o comportamento está trazendo algum risco direto para o cão, como machucar a boca em cimento, engolir pedaços perigosos ou quebrar os dentes. Além de analisar se está afetando a convivência com os responsáveis.

Brinquedos para cachorro: nem tudo é igual

Oferecer brinquedos certos ajuda muito, mas é preciso escolher bem. Alguns cães se empolgam e engolem pedaços. Outros só se interessam se puderem destruir. Os brinquedos que mudam de forma podem ser mais atrativos, mas devem ser seguros.

Por isso, evite brinquedos com fios compridos, pedaços pontiagudos ou plástico de baixa qualidade. Madeiras naturais, como a de café, são interessantes porque não soltam farpas. Já madeiras tratadas, como as de móveis, podem ser tóxicas. Pneu de carro também não é seguro.

Brinquedos de borracha próprios para cães, como o Kong, são boas opções. Mas tem raças que conseguem até destruir os modelos mais resistentes. Os Dachshunds, por exemplo, são especialistas em destruir Kongs. Ou seja, supervisione as primeiras intenções para conhecer o seu próprio cão.

Corrigir, mas do jeito certo

Se for corrigir, tem que ser na hora. Se viu o cachorro mordendo a cadeira, pode interromper, dizer um “não”, redirecionar. Mas não vale dar brinquedo ou petisco nesse momento. Senão ele aprende que destruir chama atenção e ainda ganha prêmio.

Se você esqueceu de dar um brinquedo naquele dia, tudo bem, mas aproveita para deixar pronto para a próxima. E sempre que o cão estiver mordendo o objeto certo, elogie bastante. Lembre-se: destruir é natural, então entenda o que está por trás e foque em direcionar esse comportamento.

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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha e Barthô (in memoriam), Bruno e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.

marianapucci@gearseo.com.br

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