Por Alexandre Rossi – Dr Pet
Seu pet dorme muito? Mexe as patas, os olhos ou os bigodes enquanto está deitado? Parece estar correndo no meio de um sonho? Muita gente se pergunta o que acontece no sono dos pets. Já adiantamos que quando cães e gatos dormem, o processo vai muito além do simples descanso.
Dormir bem faz muita diferença na vida dos nossos pets. E os sonhos também têm um papel importante, tanto no comportamento quanto na saúde. Nessa coluna, vou explicar por que o sono é tão importante pros cães e pros gatos, o que a gente já sabe sobre os sonhos deles e o que dá pra fazer pra ajudar seu pet a descansar de verdade.
Durante o sono, o corpo do animal entra em modo de recuperação. É nessa hora que ocorrem reparos celulares, que o sistema imunológico trabalha com mais eficiência e que o cérebro organiza tudo o que aconteceu ao longo do dia. É uma parte ativa do funcionamento do organismo — não um simples desligamento.
Inclusive, estudos mostram que, ao aprender algo novo, o pet consolida melhor o que aprendeu se puder dormir logo depois. Isso vale também para emoções: quando um animal vive algo muito marcante, como um susto, e dorme em seguida, há maior chance de aquele evento ficar mais fixado na memória. Por isso, vale a pena prestar atenção no que o pet vive antes de descansar, especialmente em situações estressantes.
Assim como os humanos, os pets também passam por diferentes fases do sono: sono leve, sono profundo e sono REM. Cada uma tem uma função diferente. Durante o sono leve, o pet pode acordar com facilidade. Já no sono profundo, o corpo aproveita para se recuperar. E o sono REM é o momento em que os sonhos acontecem — e que o cérebro mais trabalha reorganizando memórias, emoções e aprendizados.
É importante que o pet tenha ciclos de sono saudáveis, passando por todas essas fases. Mesmo que durma por muitas horas, se ele não alternar bem entre os estágios do sono, pode ficar mais irritado, agitado ou até com dificuldade de aprendizado. Isso é comum em pets mais velhos, que podem ter mais dificuldade para dormir ou para manter o sono profundo e restaurador.
A quantidade de sono varia de acordo com a espécie, idade e até o tamanho do pet. Um cão adulto costuma dormir entre 12 e 14 horas por dia — e raças grandes tendem a dormir mais. Filhotes e idosos precisam de ainda mais tempo. Já os gatos podem dormir de 14 a 20 horas por dia, especialmente se forem bem novinhos ou já idosos.
Mas esse sono não costuma ser seguido como o nosso. Cães e gatos dormem de forma fragmentada, tirando cochilos ao longo do dia e da noite. Os cães tendem a acompanhar mais a rotina da casa: se a família é mais ativa durante o dia, eles também ficam mais despertos. Já os gatos são mais noturnos por natureza, embora muitos acabem se adaptando aos horários dos tutores.
É bem comum ver um cachorro mexendo as patas ou um gato se movendo de leve enquanto dorme. Esses movimentos costumam acontecer durante o sono REM — que é justamente quando os sonhos aparecem. E sim, cães e gatos sonham. Eles revivem experiências do dia, lembram de pessoas, situações, atividades que gostam de fazer, recompensas, emoções… tudo isso pode voltar no sonho.
Estudos com monitoramento cerebral mostram que o cérebro dos animais fica tão ativo durante o sono REM quanto durante a vigília. Em um dos experimentos, foi possível perceber que um cachorro estava “refazendo” uma pista de agility enquanto sonhava — o mesmo circuito que ele havia percorrido durante o dia. Isso acontece porque as mesmas áreas do cérebro ativadas na atividade real se ativam novamente durante o sonho.
Existe até uma área do cérebro que normalmente inibe os movimentos físicos durante os sonhos, para evitar que o animal “saia caçando” de verdade enquanto dorme. Em estudos em que essa inibição foi retirada, os cães começaram a agir como se estivessem vivendo o sonho: andavam, latiam, pulavam — exatamente como fariam acordados. Assustador, mas muito revelador.
Nem tudo que parece sonho é sonho. Se o pet está dormindo e não acorda com facilidade ao ser chamado, pode ser que ele esteja passando por uma convulsão e não sonhando. Em caso de dúvida, vale consultar um veterinário.
Outra condição que merece atenção é a apneia do sono. Raças com focinho achatado, como pug, buldogue e shih-tzu, podem ter interrupções na respiração durante o sono. Isso afeta a qualidade do descanso e pode exigir tratamento. E vale lembrar: dormir demais também pode ser um sinal de alerta. Em alguns casos, pets que vivem em ambientes pouco estimulantes acabam dormindo o tempo todo — e isso pode indicar tédio, depressão ou problemas de saúde.
Há ainda distúrbios mais raros, como a narcolepsia, em que o animal literalmente apaga no meio de uma atividade. Se o cachorro está animado para comer e, de repente, cai dormindo, é hora de investigar.
Alguns cuidados simples ajudam muito a garantir um sono mais tranquilo e saudável. Alimentação e hidratação adequadas são fundamentais. O pet precisa estar nutrido e hidratado para descansar bem. Comer demais ou de menos também pode atrapalhar.
O conforto térmico também faz diferença. Frio ou calor excessivo atrapalham o sono. Uma caminha adequada, mantas e ventilação ajudam.
O ambiente precisa ser silencioso e seguro. Barulhos intensos, luz forte ou um espaço com muito movimento dificultam o relaxamento. Às vezes, levar a caminha ou uma manta com o cheiro de casa em viagens pode ajudar o pet a se sentir mais seguro.
Por fim, o estímulo ao longo do dia influencia diretamente no sono. Pets que brincam, passeiam e têm interações positivas tendem a dormir melhor. Eles gastam energia física e mental, o que favorece um sono mais profundo e restaurador.
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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha e Barthô (in memoriam), Bruno e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.
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