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Por trás da fama do Pitbull: o papel da genética, da criação e do ambiente

Por Alexandre Rossi – Dr Pet 

Quando a gente fala sobre Pitbulls, surgem debates intensos, rótulos e muito preconceito. Mas mais do que discutir se essa raça é ou não agressiva, a pergunta mais importante é: como garantir uma convivência segura com um cão de porte forte e potência muscular?

A resposta, como quase tudo no comportamento animal, não é simples nem única. Mas envolve, sim, genética, socialização, educação e responsabilidade. Continue lendo para saber mais sobre o tema.

Toda raça tem predisposição

Um erro comum é tratar todos os cães como iguais. Claro que, em essência, todo cachorro é um cachorro. Mas algumas características foram reforçadas por gerações de cruzamentos seletivos. No caso do Pitbull, a força física, a resistência à dor e a persistência durante uma atividade foram traços valorizados por muito tempo, inclusive em contextos terríveis, como as rinhas de cães.

Isso não significa que todo Pitbull será agressivo! Mas é um alerta: se ele for exposto a estímulos errados, mal socializado ou treinado de forma equivocada, a chance de causar um dano físico é maior do que a de um cão menor e menos potente. Um ataque de um chihuahua e de um Pitbull têm consequências bem diferentes, por exemplo.

Agressividade é parte natural do comportamento animal

Antes de julgar qualquer cão como “ruim” por mostrar agressividade, é importante entender que esse comportamento é instintivo. Mamíferos, inclusive nós, humanos, têm formas de reagir diante de ameaças, dores, medos ou disputas. A agressividade dos cães não é defeito. É uma ferramenta de defesa e sobrevivência.

Ela pode surgir como defesa de território, proteção de filhotes, disputa de recursos ou até por medo. E ela pode ser moldada por educação, ambiente e experiências prévias. Por isso, ignorar ou negar a existência da agressividade, chamando tudo de “reatividade”, como virou moda, não ajuda. O que ajuda é compreender suas causas e agir de forma preventiva.

E sim, existem linhagens de Pitbulls que foram selecionadas por gerações para serem mais resistentes, persistentes e até mais combativas entre cães. É justamente por isso que é essencial escolher um canil de confiança, visitar as instalações antes da compra ou adoção e nunca negligenciar socialização, educação e manejo.

Socialização e dessensibilização do Pitbull

Um dos pontos mais importantes na formação do comportamento de um cão é a socialização nos primeiros meses de vida. O ideal é que o cão seja apresentado, de forma positiva, a diferentes pessoas, sons, objetos, texturas, ambientes e outros animais antes dos três meses de idade. Essa fase é chamada de “período sensível”, justamente porque tudo o que for aprendido aqui tende a ser mais aceito pelo cérebro do filhote.

Além disso, a dessensibilização ao toque e à manipulação é essencial. Ensinar o cão a aceitar que peguem nas patas, nas orelhas, no rabo, que entrem em elevadores ou salas movimentadas, que usem equipamentos de contenção… tudo isso pode evitar grandes problemas no futuro.

Focinheira: proteção para o cão e para todos ao redor

Em alguns municípios, o uso da focinheira em raças como Pitbull é obrigatório por lei, especialmente em locais públicos. Mas, mesmo onde não há exigência legal, o mais recomendado é que cães de porte forte e com alto potencial de mordida sejam acostumados desde cedo a usar focinheira. Não como punição ou por desconfiança, mas como medida de segurança e respeito ao coletivo.

Muitas situações fora do controle do tutor podem deixar um cão desconfortável: um susto, uma criança correndo, outro cão provocando, alguém invadindo o espaço dele sem querer. Mesmo um cão bem socializado pode reagir de forma inesperada diante de algo que nunca viveu. E quando falamos de cães com grande potência muscular, a margem para erro é muito menor.

O ideal é que a focinheira seja apresentada de forma positiva ainda na fase de filhote, durante o processo de dessensibilização. Assim, o cão aprende que usar a focinheira não é desconfortável, nem motivo de estresse. Ela se torna apenas mais um acessório do dia a dia.

Educação consistente do Pitbull

Existe uma ideia equivocada de que basta dar amor e carinho que o cachorro “vai se comportar”. Mas cães não aprendem regras só com afeto. Eles precisam ser guiados, ensinados, reforçados.

Ensinar que não pode pular nas pessoas, que deve esperar com calma, que não deve disputar brinquedos de forma bruta… tudo isso faz parte da educação. E quando falamos de cães fortes, isso se torna ainda mais necessário. Um cão que aprende a respeitar limites tende a ficar mais tranquilo e previsível, o que reduz muito o risco de incidentes.

O ambiente também molda o comportamento do Pitbull

Muita gente diz que o problema é sempre o responsável, e, de fato, nós temos uma enorme responsabilidade. Mas isso não significa que tudo depende só dele. Há cães com maior predisposição genética à guarda ou à caça, por exemplo. Outros são naturalmente mais calmos.

Por isso, como eu citei antes, é importante conhecer bem o cão que você está adotando ou comprando. E isso inclui a linhagem, o histórico comportamental da família do animal, e, claro, o próprio indivíduo.

E vale lembrar que o ambiente tem peso também: um cão que fica solto na rua e é provocado por crianças, por exemplo, pode desenvolver comportamentos agressivos que talvez nunca aparecessem se ele estivesse num ambiente seguro e bem conduzido.

E no apartamento, dá pra ter um Pitbull?

Essa é outra dúvida comum, e a resposta é sim. Com responsabilidade, qualquer cão pode viver bem em apartamento. Na verdade, cães que vivem em espaços menores muitas vezes recebem mais atenção, passeiam mais e são mais estimulados do que os que vivem soltos em quintais.

Mas o tutor precisa se comprometer. O espaço interno deve ser visto como um local de descanso e convivência tranquila. E a necessidade de exercícios físicos e mentais precisa ser suprida diariamente, com passeios, brincadeiras e atividades de enriquecimento ambiental. Um cão forte, dentro de casa, sem gastar energia e sem limites, pode se tornar um problema.

Educar com responsabilidade é o que transforma o potencial de força em convivência equilibrada. E, quando isso acontece, raças rotuladas como perigosas revelam o que realmente são: cães, como qualquer outro — capazes de oferecer parceria, afeto e um convívio harmonioso, quando recebem o cuidado certo.

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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha e Barthô (in memoriam), Bruno e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.

marianapucci@gearseo.com.br

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